Mais próximo de "Alô, Alô!" que de "A Grande Evasão"
Quase 60 anos depois do final da II Guerra Mundial, Hollywood ainda continua a fazer filmes que contemplam todos os estereótipos da propaganda da época. Os americanos são heroicos, nobres e abnegados, os seus aliados unidimensionais ficam em serviçal segundo plano, os alemães são demónios arrogantes, culpados do que fizeram e do que não fizeram, a realidade é simplificada e os factos são manipulados a bel-prazer dos vencedores. Tudo isto está escancarado de forma confrangedora em Os Caçadores de Tesouros, onde George Clooney quis, de alguma forma, recriar e evocar o espírito dos filmes de II Guerra Mundial de referência dos anos 60, caso de A Grande Evasão, de John Sturges (1963), os quais, apesar de estarem temporalmente mais próximos do conflito, conseguiam ser menos simplistas, um nadinha mais realistas e também menos caricaturais do inimigo do que os feitos agora. Mas Os Caçadores de Tesouros, o quinto filme assinado por Clooney - que também produz, assina o argumento, a meias com o seu sócio Grant Heslov, e desempenha o papel principal -, resulta no pior que já realizou, porque não só primário no ponto de vista e no discurso, como também empastelado na exposição narrativa, indeciso no tom, mortiço até ao bocejo na realização e povoado por um conjunto de muito estimáveis atores que ou foram condenados a incarnar personagens feitas descartáveis (caso do francês Jean Dujardin e do inglês Hugh Bonneville, rapidamente "despachados" pelo argumento), ou estão desenquadrados das suas até ao ridículo (Matt Damon, John Goodman e Bill Murray, no papel de artistas e académicos especialistas em arte, são tão plausíveis como Sylvester Stallone e Chuck Norris no de físicos nucleares). Quanto a Cate Blanchett, de sapatinho raso, cabelo apanhado e óculos, cabe-lhe a ingrata tarefa de personificar a francesa resistente-de-carregar-pela-boca. Involuntariamente, Os Caçadores de Tesouros está mais próximo de Alô, Alô! do que de A Grande Evasão.